Carlinho
(nome fictício)
Rizzio Costa
O garotinho à minha porta foi falando:
“Moço, me dá dinheiro prá comprá um pão”?
Entre assustado e triste, olhei-o, reparando
Seus olhos, que diziam “não me negue não”...
Aquele olhar me conquistou. Fiquei pensando:
Ao dar esmola, sem com isso dar amor,
Ofende-se a quem pede, às vezes implorando,
Socorro urgente para alívio de uma dor...
E crendo até que este menino é, na verdade,
A inocência pondo à prova a caridade
De cada um, tentei com ele ir conversando.
E quis saber seu nome e onde ele está morando
“Nome, Carlinho; a casa é lá no mutirão”...
E o que, afinal, você será quando crescer?
“Um cortador de cana”, foi sua resposta
E ele saiu, mas a mensagem eu gravei,
Para que, nestas rimas pobres, fique exposta,
Como “historinha”, a conclusão a que cheguei:
Dei-lhe o dinheiro e, no outro dia, ele voltou
Trazendo ao lado, um seu amigo, e me apontou:
“Esse é o moço que eu falei que riu prá mim”.
Mas não pediram nada e eu pude perceber
O desencanto que há em uma vida assim:
Um conheceu de perto o amor e ver trazer
O outro e, este, quis... me ver, de perto, para crer!...